2016-06-23



Os elefantes
do Maiombe

Antunes Ferreira
O
 Maiombe era uma atração para caçadores a sério daqueles que atiram aos elefantes e algumas vezes matam-nos. O que pode dizer-se que é que ela é muito perigosa para os caçadores mas sobretudo para os paquidermes. Sendo uma das maiores florestas do Mundo, a segunda segundo alguns também representa outro perigo: perder-se dentro dela. Em Angola parte do Maiombe fica em Cabinda e confina com os dois Congos.

B
exiga cirurgião dentista de profissão e caçador de militância decidiu partir de Luanda e chegar à enorme floresta seguindo por aquela província angolana. Levava consigo o seu filho Malaquias para ver ao vivo o que eram os elefantes; mas também para lhe dar umas lições de como abater um proboscídeo; ó pai que raio de coisa é essa, um automóvel, um submarino como os do Portas ou uma cegonha daquelas que trazem os bebés de Paris? Que raio de pergunta; respondeu-lhe o pai, é um elefante.

...ainda acredita no Pai Natal?


O
 dentista interrogou-se sem mexer sequer os lábios: será que o rapaz quase a fazer os dezassete ainda acredita no Pai Natal? Bom. Depois logo se verá, a ser assim tenho de dar-lhe umas lições sobre esses mistérios da natureza incluindo obviamente a origem das playstations que lhe dou no dia 25 de Dezembro e que não uso barba branca nem me visto de vermelho, eu até sou do Sporting. E enquanto pensava assim iam entrando na mata e o Malaquias moita-carrasco.

Com árvores tsunâmicas de grandeza


E
 de repente deram por eles completa, radical e abissalmente perdidos; com uma agravante não tinham trazido qualquer tipo de comida pois contavam que a primeira “peregrinação” exploratória na floresta fosse no máximo umas seis horas. Em resumo, se gastassem a água do cantil dele estavam f…oops, feitos, o do Malaquias se comparado com o Sará ainda estava mais seco. Por isso foram andando aos trancos e barrancos entre as árvores que eram tsunâmicas de grandeza, nem permitiam entrar a luz, mesmo que o Sol lhes pedisse por obséquio. E assim palmilharam durante três dias…

... como esqueletos


U
ma clareira! Estamos safos! Outro pai e outro filho, apresentaram-se era o Eng.º Boticas e o rapazote Simão obviamente Boticas. Nem respiraram, foram logo perguntando: há aqui qualquer coisa que se coma? O ar dos cidadãos recém encontrados dizia tudo ou melhor dizia nada: nem morfos, nem bóbidas, enfim nadíssima. Despediram-se os Bexigas esfomeados como se já fossem esqueletos dos Boticas igualmente. Os segundos perfeitamente desanimados deixaram-se ficar aparvalhados, enquanto os primeiros prosseguiam.

M
as para onde Deus do Céu? Não havia semáforos, nem placas indicativas do destino, muito menos polícias sinaleiros. E com os estômagos colados com Pattex aos intestinos por onde não passaria sequer um bago de arroz; daí que se fossem lembrando da parábola do rico, do pobre e do buraco duma agulha. Estavam desgraçados, iam morrer de fome e de sede. E o Bexiga era viúvo só tinha o Malaquias como herdeiro. Com ambos definitivamente falecidos, os bens que o dentista tinha iriam parar à Santa Casa da Misericórdia com o Santana Lopes a sorrir embevecido.

Extinto há milénios


R
aio de merda! clamava o cirurgião e o Malaquias juntava-lhe porra! Foi nesse instante que ouviram um restolhar. Seria um elefante quiçá um mamute, mas este estava extinto há uma porrada de anos… Era o Bexiga júnior que vinha pelo capim ofegando. O puto parou, respirou fundo e falou: o meu pai manda perguntar-vos se gostam de ovos mexidos com chouriço?

M
édico e filho resplandeceram: claro que gostamos, vamos a eles! E o Simão: ainda não acabei, pois o meu pai ainda manda dizer que nem isso temos… Bexigas entreolharam-se, a coisa estava mesmo preta o que não admirava pois estavam no continente africano. Não enforcaram o mensageiro porque não havia corda.  

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(
Esta estória resulta de um lamiré - mas não posso dizer de quem é...)